Brasil perdeu 1,3 mi de MEIs por falta de pagamento de contribuição
A cada mês, 260.000 microempreendedores individuais (MEIs) têm o CNPJ cancelado por falta de pagamento das contribuições mensais. Somados, representam 1,3 milhões de MEIs que perderam a condição de microempreendedor só em 2018. Esse número pode crescer ainda mais. No fim do mês, 6,8 milhões de MEIs devem entregar a Declaração Anual do Simples Nacional (Dasn-Simei), informando a receita bruta total de 2017 e se empregou alguém no período.
Quem não enviar a declaração na data pode pagar multa no valor mínimo de 50 reais ou de 2% ao mês sobre os tributos decorrentes das informações prestadas no Dasn. O MEI que não regularizar seus débitos pode perder a condição de microempreendedor e as dívidas passam a ficar vinculadas ao seu CPF.
Para evitar o cancelamento do CNPJ, o Sebrae está promovendo a Semana do MEI – evento em que oferece cursos para capacitar e melhorar o conhecimento de gestão dos MEIs.
“O principal objetivo da Semana do MEI é comunicar e lembrar ao microempreendedor que ele tem essas obrigações e o limite para envio da declaração é o mês de maio”, afirma Alexandre Robazza, gerente do Sebrae na unidade da República, no centro de São Paulo.
Quando Vandelerne Gregorio, 50, decidiu criar a empresa Valed para a locação de brinquedos em 2017, tinha a expectativa de lucrar mensalmente 2.500 reais. Até agora, ela não conseguiu alugar nenhum dos brinquedos comprados. Vanderlene foi ao Sebrae em busca de orientação. “Vim para saber como posso divulgar meu trabalho. Já publiquei o serviço nas redes sociais, mas até agora não apareceu nada. Quero saber onde eu estou errando, se é na divulgação ou no preço”, afirmou.
Ela investiu 5.000 reais na compra dos brinquedos, como pula-pula e piscina de bolinhas. Vanderlene investiu na Valed após ser desligada da empresa em que trabalhava. Ela recebeu a última parcela do seguro-desemprego nesta semana.
A microempreendedora conta que queria ter o próprio negócio. “Sempre tive vontade de ter algo voltado para festas, mas como eu trabalhava direto não amadureci a ideia, que veio assim que eu saí da empresa”, contou.
A artista circense Natalia Torres, 41, criou uma empresa de eventos que presta serviços de recreação e maquiagem artística. Ela comanda a empresa sozinha, desde que a sócia se afastou no início do ano. “Ela era responsável por essa parte do MEI. Quando ela saiu, fui pagar os boletos [de contribuição mensal] e percebi que muitos débitos estavam em aberto. Não consegui resolver isso por telefone e vim aqui pedir um socorro”, disse.
Segundo ela, o lucro mensal varia entre 4.000 reais e 5.000 reais. “Até 2012, eu tinha vários clientes fixos. Hoje, tenho só um por causa da crise”, disse. “Já lucrei 20.000 reais por mês. Agora, eu só consigo pagar minhas contas, mas não considero uma renda boa porque tenho que pagar escola particular, plano de saúde, supermercado, as coisas só aumentam de preço”.
A microempreendedora Sonia Soares, 62, foi ao Sebrae pela primeira vez para fechar a empresa de roupas que criou há cinco anos. “Nunca tive dinheiro porque tinha que comprar manequim, alugar um local. Sozinha não dava. Comecei a comprar roupa no Brás e revender, mas também levei muito calote”.
Segundo ela, há uma dificuldade em conseguir emprego pela idade. Atualmente, ela recebe um auxílio do bolsa-família no valor de 82 reais. “Não é fácil procurar emprego, já espalhei meu nome em São Paulo inteira e nada”.
A microempreendedora contou que não fez um planejamento antes de abrir a empresa. “Na época, eu só pensei ‘vou virar sacoleira”.
De acordo com o gerente do Sebrae, a falta de planejamento aumenta as chances de que o negócio dê errado. “Porque uma MEI quebra? Pela falta de planejamento. Nossa grande dica é que o microempreendedor procure o Sebrae para aprender a planejar antes de fazer qualquer coisa. É precisa entender seu cliente e saber como resolver a dor dele”, disse ele. “É raro que a pessoa venha no Sebrae antes de colocar dinheiro no negócio”.
Segundo ele, há dois perfis de MEIs no Brasil. “O primeiro é aquele que olha para o mercado e acha uma oportunidade de negócio. A outra parcela, que cresceu muito nos últimos anos, é a de quem empreende por necessidade, que perdeu o emprego e agora tem que correr atrás”.
O segundo grupo de MEIs corre mais risco de se dar mal na empreitada. “Em geral, quem empreende por necessidade tem mais urgência e não se organiza financeiramente. A necessidade por dinheiro faz com que a pessoa saia atropelando as etapas, mas só adia um pouco o fato de que ela vai cair de um precipício”, afirmou Robazza.
Fonte: Veja.com