Grau de investimento é 'carimbo' de saída do Brasil da crise, dizem analistas
Reconhecimento da Moody's foi o primeiro a ser concedido após a crise.
Agora o país tem recomendação das três principais agências de risco.
O grau de investimento concedido pela agência de classificação de risco Moody's na terça-feira (22) foi recebido pelo mercado como um “carimbo” importante que atesta o bom desempenho e a rápida retomada do crescimento da economia do Brasil durante a crise, afirmaram especialistas consultados pelo G1.
"Tem um peso simbólico importante por ser o primeiro (grau de investimento) vindo após uma crise muito grande, dando um carimbo de que o país conseguiu sair dela rapidamente", afirmou o economista-chefe do banco Schahin, Silvio Campos Neto.
O grau de investimento é uma avaliação feita pelas agências considera as condições fiscais (das contas públicas) e as contas externas, além do marco regulatório e condições políticas, entre outros fatores.
Mais do que a elevação da nota – que, na prática, é uma recomendação para que os investidores coloquem mais recursos no país –, analistas comemoram o tom positivo da declaração sobre a economia brasileira.
Entre outros elogios, a Moody's classifica o Brasil como “vencedor” e compara o país positivamente em relação a outras nações. O texto destaca a curta duração da recessão no Brasil.
'Bem na foto'
“O tom da declaração do relatório atesta que, se houver um outro ‘mergulho’ na economia mundial, o Brasil está entre os países que enfrentarão bem”, afirma Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil.
“Normalmente, essa notícia não teria tanto impacto por já ser o terceiro grau de investimento que o Brasil recebe mas, por ser nesse contexto de crise, o Brasil ficou bem na foto", afirma Leal.
Outro ponto importante, segundo o economista Silvio Campos Neto, é o fato de a agência ter dado ao Brasil a perspectiva positiva para futuras revisões. “Mostra que eles vêem como possível elevar ainda mais a notas do país”, afirma.
Peso da nota
Para Daniel Motta, professor da escola de negócios Insper, as agências de classificação de risco perderam um pouco da credibilidade que tinham antes da crise, depois que atribuíram muitas notas altas a instituições financeiras que depois se relevaram as mais contaminadas pelos "títulos podres" das hipotecas de alto nível de inadimplência (subprime), que desencadearam o processo de quebra de bancos.
"Elas davam ratings bons para fundos de investimentos no exterior que eram extremamente 'podres', de pessoas que não tinham condições de honrar suas dividas imobiliárias. Como é que eu investidor posso confiar no rating se elas o davam para esses bancos que quebravam?",questiona.
Apesar das dúvidas, analistas concordam que ainda não surgiu outra ferramenta para orientar o investidor sobre quais os países devem ser destinos seguros para dinheiro.
"Obviamente que enfraqueceu (o papel das agências), mas o que fica no lugar? É a mesma coisa que o dólar: está mais fraco, mas ainda não há substituto. Ainda mais em termos de créditos soberanos", diz Leal, do ABC Brasil.
Situação fiscal
Ainda de acordo com o economista, uma boa notícia do relatório da Moody's é que ele sinaliza que a situação fiscal no Brasil não é fonte de preocupação para o mercado internacional – pelo menos por enquanto.
"O mercado interno estava começando a ficar preocupado com a questão fiscal no Brasil, principalmente com os gastos públicos com pessoal do governo, que têm crescido e não vão parar de crescer após a crise", afirmou.
Para ele, a agência demonstrou que a prioridade atual nas análises macroeconômicas do país é o crescimento da economia.
"Ficou claro pelo relatório da Moodys que a visão que o investidor estrangeiro com relação ao Brasil foi reforçada. Para eles, política fiscal não tem muito problema. O nome do jogo é crescimento. Isso vai dar uma certa tranquilidade do mercado", disse.