'Efeito apagão' sobre investimento estrangeiro divide especialistas
CNI acredita que assunto tende a ser superado e não deve influenciar.
Para economista, governo deve conduzir 'pós-apagão' com transparência.
Maria Angélica Oliveira Do G1, em São Paulo
Na madrugada da quarta-feira (11), a Avenida Sumaré, em São Paulo, foi 'riscada' pela iluminação dos veículos. (foto: Arquivo/Evelson de Freitas/Agência Estado/AE)
Entidades e especialistas ouvidos pelo G1 se dividem sobre se o apagão ocorrido em 18 estados brasileiros entre a noite de terça (10) e a madrugada de quarta (11) deverá ou não afetar os investimentos das empresas estrangeiras no país.
O vice-presidente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), José de Freitas Mascarenhas, lembra que apagões já aconteceram em países desenvolvidos, como os Estados Unidos.
Do ponto de vista do investimento, acontecimentos como esse não têm muito significado. Teria se houvesse perspectiva de redução de suprimento de energia. Creio que esse assunto tende a ser superado”, diz.
Para Mascarenhas, que preside o Conselho de Infra-Estrutura da CNI, o setor elétrico tem “muita gente competente”, mas precisa de mais investimentos.
Pós-apagão
O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos das Empresas Transnacionais (Sobeet), Luis Afonso Lima, teme que o apagão desperte insegurança entre os investidores. “As pessoas começam a se questionar. Se, em um ano em que a economia está praticamente estabilizada, sem crescimento, já tem esse tipo de problema, imagina no ano que vem, quando a economia estiver crescendo 4% ou 5%?”, questiona.
Outra preocupação é o marco regulatório do setor. “Depois dessa crise, já se fala em mudanças nas condições de investimento de longo prazo. Se diante desse problema, forem realizadas mudanças no marco regulatório, prejudica o horizonte de longo prazo para quem quer investir”, aponta.
Já o economista Robson Gonçalves, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que o blecaute não deverá afugentar o investidor estrangeiro, mas é preciso que o governo saiba como conduzir o “pós-apagão”.
“O impacto tende a ser razoavelmente limitado caso a agência reguladora, o Operador Nacional do Sistema (ONS) e os agentes envolvidos tenham muita clareza em dizer o porquê disso e qual será a linha de ação", avalia.
Ele lembra que o governo deve se dedicar a aumentar a capacidade de geração de energia para os próximos anos. “Esse é um problema muito mais sério", afirma.
Ele lembra que a própria Aneel divulgou um documento recentemente dizendo que o Brasil vai poder contar, até 2013, com uma expansão de no máximo 3% da capacidade de geração de energia por ano. "Muito mais do que problema de transmissão e eventuais blecautes, a gente tem que cuidar da oferta de energia elétrica para os próximos anos porque isso pode ser uma restrição séria ao crescimento.”
'Bastante energia disponível'
O presidente da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha, Weber Porto, afirma que o apagão foi um problema “pontual” e lembra que o incidente não significa que haverá racionamento.
“Não estamos falando nesse momento da falta de energia elétrica que vai exigir que as empresas entrem com planos de contenção. Isso seguramente não vai acontecer. Inclusive, tem bastante energia elétrica disponível nesse momento”, diz.
A entidade estima que 1.200 empresas alemãs estejam no país. Para ele, a maior parte das companhias não deverão tomar o episódio como um “problema crônico” do país. Segundo Porto, o país foi o segundo maior investidor do Brasil no primeiro semestre desse ano.
Apesar de não acreditar em fuga de investidores, o presidente da câmara chama a atenção para outras questões. “Há problemas de logística, portos, aeroportos. Se o Brasil quiser crescer nos números que estamos planejando - e acreditamos que são números que possam ser atingidos - vai ter que investir em infra-estrutura, e a energia vai ter que estar disponível para os próximos investimentos.”
‘Apetite’
O diretor da Câmara de Comércio Brasil-China, Kevin Tang, avalia que o apagão não tira o “apetite” do investidor e pode até atrair mais empresas da área de infra-estrutura. Segundo ele, a maior parte das companhias chinesas vêm ao Brasil com perspectivas de longo prazo e estão "acostumadas as investir em mercados emergentes".
“O investimento vai continuar crescendo a passos largos. Os chineses investem bilhões na África, que tem infra-estrutura e mercado muito menos desenvolvidos do que o Brasil. Os chineses estão acostumados a investir em mercados emergentes.”
Charles Tang, presidente da Câmara, diz que o investidor chinês se preocupa primeiro com os “fundamentos” do país: estabilidade política e financeira, burocracia, impostos e legislação trabalhista. “Acidentes acontecem, por melhor que esteja tudo planejado e organizado.
Ele afirma que a energia pode até ser parte das preocupações das empresas estrangeiras, mas diz que isso, quando ou se ocorre, não se deve ao blecaute.
“Não estamos mais enfrentando o que enfrentamos há alguns anos, o fantasma da falta de energia. “
São gastos que vão ficar e que não geram nada a não ser uma pequena distribuição de renda", explica.